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Ensaio fotográfico

Memórias Indigenistas no Nordeste

40 anos do Cimi no Nordeste

30 anos da Constituição Federal

 

O Brasil completa 30 anos da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 2018. Ironicamente, ao alcançarmos perto de três décadas de existência deste instrumento democrático, observamos um processo de sucessivos ataques a uma série de direitos conquistados; alguns inéditos em nossa história. Os desmontes em curso, principalmente após o golpe jurídico-político e midiático de 2016, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Tal conjuntura nos motivou a organizar este ensaio fotográfico, que futuramente deve se transformar em livro.

 

Consideramos fundamental olhar para este momento recente com o objetivo de entender a nossa história e o contexto político nos quais as mobilizações dos povos indígenas estão inseridas na contemporaneidade. Com efeito, os artigos 231 e 232 da Constituição tornaram as barricadas ante uma guerra de baixa intensidade que neste momento ocorre nos confins do país profundo. O ano de 2018 marca, nesta mesma seara de efemérides, os 40 anos de atuação do Conselho Indigenista Missionário na região Nordeste do país.

 

As imagens aqui apresentadas, que partiram de uma permanente ação de salvaguarda e pesquisa nos acervos do Cimi-NE, observamos os dez primeiros anos de atuação da instituição na região, exatamente a década que antecedeu a promulgação do texto constitucional, marcada por momentos de efervescência política na qual os povos indígenas no Brasil protagonizaram histórias de luta, reivindicação e conquista de seus territórios.

 

O trabalho de tratamento técnico do acervo do CIMI-NE, que ocorre de forma permanente desde 2013, coordena equipes que vêm realizando ações de salvaguarda, digitalização e disponibilização de um conteúdo fundamental como polaroide de um período histórico dos povos indígenas no Brasil. Este conjunto de documentos é composto por vídeos, fotografias, negativos, áudios, recortes de jornais, entre outros materiais. Um acervo quase inédito e riquíssimo que permite-nos conhecer novos fatos, atores e processos de nossa história relativa à conquista de direitos sociais, especialmente, os das populações indígenas.

 

Contextualizar a atuação política da Coordenação Regional Nordeste do Conselho Indigenista Missionário junto aos povos indígenas da região é fundamental para compreender a produção dos conteúdos deste acervo. Este conjunto documental multifacetado foi colecionado ao longo dos anos com a contribuição das várias equipes que participaram das atividades de assessoria e acompanhamento das mobilizações indígenas no Nordeste. Apesar de se espraiar por outros estados do país, a atuação do Cimi na região se deu, prioritariamente, em Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Paraíba.

 

Até a criação de sua primeira sede regional, na cidade de Paulo Afonso, em 1983, os materiais que foram sendo produzidos, reunidos e acumulados, e que deram origem a este acervo, ficavam armazenados nas bases de apoio das equipes, que eram, geralmente, os mesmos locais onde residiam os missionários. Com a criação das bases de apoio local, os materiais resultantes da ação indigenista foram sendo guardados na sede central da Coordenação Regional, transferidos sucessivamente conforme seus deslocamentos ao longo dos anos e da atuação da instituição.

 

Diante de tamanha acervo, uma pergunta tomou a dianteira: o que publicar como material inaugural, entre um vasto e inédito conjunto fotográfico? A resposta nos foi dada a partir da análise da conjuntura política atual, que nos levou ao recorte que optamos por compartilhar nesta publicação. Assim, iniciamos o processo de seleção dos materiais ora compartilhados. Das aproximadamente 7.500 fotos que encontramos reveladas, 5.400 fotos passaram por todas as etapas do tratamento técnico, sendo, por fim, digitalizadas. Destas imagens, aproximadamente 1.000 eram datadas do período aqui retratado. A partir daí, fizemos uma seleção inicial de 275 imagens, dentre as quais, posteriormente, foram selecionadas as 60 fotos que compõem este ensaio fotográfico.

 

Os critérios utilizados para as escolhas respeitam a diversidade de povos retratados no acervo e a diversidade temática dos registros fotográficos efetuados pelos missionários indigenistas do Cimi. Neste sentido o ensaio esta dividido em dois grandes blocos um com eventos e outros com os povos.

 

São vinte e cinco fotos que apresentam, em ordem cronológica, todos os eventos retratados no acervo: assembleias e encontros indígenas locais e nacionais dos anos de 1979, 1981, 1982, 1984, 1985; atividades pastorais como a Romaria da Terra de 1984 e a missa da terra em 1987; e, por fim, imagens da participação indígena na Constituinte.

 

Outras trinta e cinco versam sobre os povos que são retratados no referido período, que compreendem fotos dos povos: Kapinawá, Xukuru, Fulni-ô, Truká e Pankararu, no estado de Pernambuco; Tuxá, Kaimbé, Kiriri e Pankararé, na Bahia; Xokó, em Sergipe; Potiguara, na Paraíba; e Xukuru-Kariri e Garipanko, em Alagoas. Somando assim uma abrangência de 13 povos, de cinco diferentes estados. O conjunto de imagens reúne múltiplos momentos cotidianos da vida nas aldeias indígenas no Nordeste, registrando retomadas, torés, missas nas sedes municipais e nas aldeias; novenas para santos padroeiros; festividades; jogos de futebol; casas, pessoas e famílias; atividades produtivas.

 

Ao fazer esta opção por apresentar uma “amostra” panorâmica destes dez primeiros anos de ação do Cimi/NE acabamos por fazer uma seleção mais temática do que estética. Assim, mesmo que algumas das fotografias estejam em estagio avançado de deteriorização acabaram por compor o conjunto por sua relevância histórica.

 

Para a construção narrativa deste ensaio fotográfico, tivemos como material principal as fotografias e as entrevistas das histórias de vida dos três primeiros coordenadores do Cimi-NE, cujas trajetórias estão intimamente conectadas com as lutas em prol dos povos indígenas: Fábio Santos, o Fabião (1950-2015), José da Cunha Júnior, o Zé Karajá, e Saulo Feitosa. Junto ao registro de suas memórias, efetuado entre 2013 e 2018, reunimos dados oriundos de materiais institucionais, como o relatório 20 anos de história junto aos povos indígenas (CIMI, 1997) e notícias esparsas disponíveis no Jornal Porantim [1]. Além destes materiais, também tivemos como referência um acervo bibliográfico, bem como a coleção Povos Indígenas no Brasil, que foi editada a partir de 1980 pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi) [2] que deu origem ao atual Instituto Socioambiental (ISA). Outras entrevistas realizadas também nos forneceram importantes informações para a compreensão do contexto em que se formou e consolidou o campo de uma ação indigenista no Nordeste brasileiro. A exemplo das efetuadas com o antropólogo José Augusto Laranjeiras Sampaio, o Guga, membro da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAI) e do Programa de Pesquisas sobre Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB), e a missionária Maria Amélia Leite, fundadora da Associação Missão Tremembé, que atuou no apoio aos povos indígenas no Ceará e mantinha diálogo direto com o Cimi-NE (do qual também foi integrante, em seus primeiros anos).

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[1] “O Porantim é o jornal impresso do Cimi, criado em 1979, ainda em meio à Ditadura Militar. Na língua de nação indígena Sataré-Mawé, ‘Porantim” significa remo, arma, memória’. Os Porantins atuais podem ser acessados em <https://www.cimi.org.br/jornal-porantim/>. O material mais antigo foi digitalizado e está disponível no Armazém Memória, pode ser acessado em: <http://www.docvirt.com/docreader.net/docreader.aspx?bib=HemeroIndio&PagFis=4381>  

[2] “[...] a série apresenta notícias e artigos assinados e escritos especialmente para a série sobre temas como educação, direitos indígenas, terras indígenas e saúde, além de imagens históricas.” Podem ser acessados em: https://pib.socioambiental.org/pt/Downloads

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Coordenação geral do projeto

Alexandre Oliveira Gomes

Lara Erendira de Andrade

Manuela Schillaci,

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Coordenação executiva

Manuela Schillaci

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Pesquisa no acervo fotográfico e curadoria

Lara Erendira de Andrade

Manuela Schillaci

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Editor do texto:

Renato Santana

 

Pré-tratamento das fotografias para o site:

Lara Erendira de Andrade

 

Equipe técnica de salvaguarda das fotografias:

Equipe: Sérgio Romualdo, Marcela Frutuoso, Carmelo Fioraso;

 

Recife, agosto de 2018

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Ensaio fotográfico
XIII Assembleia Indígena Nacional 

A XIII Assembleia Indígena Nacional foi realizada na Ilha de São Pedro, território do povo Xokó, município de Porto da Folha/SE. O evento ocorreu entre os dias 12 e 14 de outubro do ano de 1979, e foi a primeira grande assembleia indígena realizada na região Nordeste. O encontro ocorreu no contexto de retomada da ilha pelo povo Xokó.

1979
I Assembleia Indígena do Nordeste

O evento ocorreu na cidade de

Garanhuns, Pernambuco, entre os dias 13 e 16 de março de 1981. Reuniu 31 lideranças indígenas dos povos: Potiguara (PB); Xukuru- Kariri, Kariri-Xokó e Wassu (AL); Xokó (SE); Kapinawá e Pankararu (PE). As assembleias eram espaços

nos quais os indígenas compartilhavam principalmente relatos de conflitos territoriais de

seus povos.

1981
II Assembleia Indígena do Nordeste

A assembleia aconteceu na cidade de Garanhus, entre os dias 12 e 15 de março de 1982. Contou com a participação de 14 dos 18 grupos indígenas do Nordeste (Norte da Bahia até Paraíba): Tuxá, Kaimbé, Kiriri e Pankararé (BA); Truká, Fulniô, Kapinawá e Pankaran (PE); Panka raru, Wassu, Tingui, Kariri-Xokó (AL); Xokó (SE) e

Poliguara (PB). No documento final do evento os indígenas

denunciaram o conflito entre

grileiros e indígenas kapinawá e a situação do povo Tuxá, que teria suas terras inundadas pela

contrução da barragem de

Itaparica

1982
Romaria da Terra

Realizada na Ilha de São Pedro, a Romaria de Terra de 1984 contou com a participação de Dom José Gomes, Bispo de Propriá, Ilha de São Pedro/SE .

1984
II Encontro Nacional dos Povos Indígenas

II Encontro Nacional dos Povos Indígenas ocorreu entre os dias 02 e 04 de abril de 1984, em Brasília (DF). Participaram cerca de 300 índios representando 170 povos e 250 mil pessoas.

1984
Assembleia Indígena do Nordeste

Assembléia Indígena reuniu onze etnias do Nordeste na Ilha de São Pedro (Porto da Folha - SE), território do povo Xokó. Nesta assembléia foram debatidos temos como a participação indígena na Assembléia Nacional Constituinte e a demarcação das terras indígenas.

1985
Manifestação dos trabalhadores rurais

Representantes Indígenas durante manifestação dos trabalhadores

rurais. Brasília/DF - 05-07/10/1987.

1987
Missa da Terra Sem Males

Missa da Terra Sem Males realizalizada em Canudos (BA). Índios Kiriri e Kaimbé na missa

1987
Índígenas do Nordeste na Constituinte

1. Aguaradando a reunião da Constituinte

11/08/1988

2. Pintura para ir ao Congresso - alojamento

Brasilía

10/08/1988

3. Kayapó com Xukuru no alojamento

4. Falando com o Dep. José Fogaça

- saguão de acesso ao Plenário.

09/08/1988

5. Com a imprensa - Auditório da

liderança do PMDB

11/08/1988

6. Toré - Em frente ao Congresso

04/08/1988

1988
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